Melhores de 2008

Com o ano a acabar, nada como começar a rever os melhores momentos musicais de 2008, com o primeiro post dedicado aos melhores 20 álbuns. O melhor (a sair dentro destas  escolhas), esse vai ser anunciado no dia 31.


Beautiful Future
Primal Scream

Depois dos Franz Ferdinand terem adiado e desistido do seu álbum de “pop sujo”, coube aos experientes Primal Scream voltarem à sua melhor forma com Beautiful Future. Embora não possa ser comparado a Screamadelica e XTRMNTR, este parece ser o “ponto de encontro” dos dois trabalhos mais fortes da banda – dançável e ruidoso.

Saturdays=Youth
M83

Há que dizer uma coisa sobre o mais recente trabalho de Anthony Gonzalez – é um álbum de que é fácil não gostar, por ir num sentido algo oposto ao do trabalho anterior da banda. Apesar dos momentos mais xaroposos como a “entrada de diário” recitada por Morgan Kibby em Graveyard Girl (um dos melhores melhores momentos musicais compostos por Gonzalez) e a visão algo decorada da adolescência nos anos 80 conforme vistos pelos filmes de John Hughes, a música em si é verdadeiramente fantástica – um throwback perfeitamente executado ao new wave da década, com os obrigatórios toques de modernidade. O abandono das texturas mais duras ouvidas nos álbuns anteriores fazia temer pelo álbum novo, mas o talento veio ao de cima para oferecer mais um álbum excelente.

Lady Cobra
Riding Pânico

São de Lisboa, levam quatro guitarras para o palco, e fazem do melhor post-rock feito no mundo inteiro. Apesar de parecerem uma banda recente, já tocam juntos desde 2004 – e é essa química adquirida quase em segredo antes de terem aparecido em público em 2006 que lhes garante uma coesão e qualidade impressionante. Mesmo que o foco da banda não esteja nos discos e sim nas performances ao vivo (e por isso dependente do tempo que os membros tenham para a banda, já que têm todos outros projectos), Lady Cobra assume-se já como um dos melhores trabalhos de 2008.

distortion_album_coverDistortion
The Magnetic Fields

Os Magnetic Fields são provavelmente uma das bandas do movimento mais alternativo que mais passa ao lado dos hypes de imprensa. Com uma boa parte do que melhor se fez nos últimos 15 anos (o extenso 69 Love Songs ajuda nessa distinção), o projecto de Stephen Merrit apareceu logo nos primeiros dias de 2008  com um álbum marcado pela homenagem aos The Jesus and Mary Chain (e acreditem que vão ler isso muitas vezes neste artigo). Distortion, pela sua produção, é um álbum que polariza imediatamente os fãs da banda: as letras, essas mantêm os níveis de ironia e a categoria demonstrada na carreira da banda, mas em vez das harmonias leves ouvidas anteriormente, temos todo o conjunto de distorções e feedbacks do currículo de diversas bandas do circuito alternativo dos anos 80 e 90. Para os fãs mais puristas da banda, resta esperar por uma versão com um segundo CD ao vivo, onde a banda descarta as “armas nucleares”. Para o resto, pode-se dizer que é uma tentativa bem sucedida em derrotar (ou ombrear) os JAMC no seu próprio terreo.

dig-lazarusDig, Lazarus, Dig!!!
Nick Cave & The Bad Seeds

Um álbum de Nick Cave é sempre algo a esperar, principalmente quando é o primeiro a sair desde 2004. E é a evolução do “Nick The Stripper” para o Nick, o homem que trabalha das 9 às 6 no seu escritório a escrever músicas para os seus projectos (acredite quem quiser), incluindo este 14º trabalho das Más Sementes.
As letras continuam no mesmo estilo de Nick Cave, desta vez seguindo a história de Lázaro,  que atormentava Cave enquanto era pequeno. Os ritmos esses são mais rápidos, muito provavelmente por Cave ter tomado o gosto ao garage rock nos Grinderman.

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Glasvegas

A Escócia sempre foi uma boa fonte para o título de “next big thing” da música Britânica – Jesus and Mary Chain, Primal Scream, Teenage Fanclub, Mogwai, Franz Ferdinand e… os Glasvegas. Após terem criado uma reputação fortíssima nos concertos ao vivo, a banda cujo som é directamente inspirado pelos JAMC, com uns toques à música pop dos anos 60, e as letras desprovidas de qualquer pertensão e sentido pseudo-irónico, mas incrivelmente sentidas, sendo cantadas pela pronúncia tipicamente escocesa de James Allan.
Enquanto é verdade que o trabalho em si não é original, um dos maiores problemas da cena independente britânica actual é que falta uma grande dose de sinceridade ao contrário da ironia sub-Jarvis num disco de plástico que muitos parecem favorecer, e nesse ponto, os Glasvegas saem vencedores com uma grande vantagem. A lamentar, apenas a escolha da versão de Stabbed (primeiro single da banda, lançado em 2004), que curiosamente é das melhores músicas do currículo inicial da banda.

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Joensuu 1685

Para quem acha que a Finlândia apenas produz 231 variantes de Metal e músicas sobre samurais cantadas por medalhistas olímpicos, este trio de Helsinquia vem provar que existe muito mais no país dos mil lagos. Inspirados, segundos os próprios, pelo garage-rock dos anos 60 e as distorções típicas do movimento shoegaze, os três Joensuu (dois deles irmãos, o terceiro sem relação) criaram aqui algumas das melhores texturas sónicas do ano.

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No Age

O segundo álbum do duo Californiano é a confirmação das indicações deixadas por Weirdo Rippers, lançado no ano passado. Fruto da scene de LA, é um álbum que não tem os tiques do resto da música pela qual a cidade foi conhecida, e o desrespeito pelo silêncio, com as músicas sempre pontuadas por um som pesado e denso a remeter aos sons da costa Este, desde que os Velvet Underground tocaram pela primeira vez.  Aqui pouco há de riffs intermináveis ou baterias explosivas – apenas uma sequência de pouco mais de meia hora de texturas sonoras cuidadosamente elaboradas – e é por essas texturas que entra na lista.

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Vivian Girls

Tendo acabado de elogiar a música de NY, é só apropriado que se siga uma das grandes estreias do ano vindas da cidade que nunca dorme. As Vivian Girls fazem a devida homenagem ao pop dos anos 60 (mais notoriamente as The Crystals, cada vez mais uma referência), com as vozes porsobrepostas e a wall of sound de Spector, mas a adicionar o ritmo frenético e a intensidade do garage rock, que transformam os 20 minutos do álbum numa explosão sonora que sabe sempre a pouco no final.

200px-deerhunter-microcastleMicrocastle
Deerhunter

O terceiro álbum do quinteto de Atlanta teve o que será provavelmente um dos lançamentos mais acidentados do ano: desde leaks do corpo principal da obra meses antes do seu lançamento, até à gravação de um segundo disco em segredo (Weird Era Cont.)  que, por erro do vocalista Bradford Cox acabou por “pingar” no resto da Internet, por entre muito fear and loathing finalmente acabou por ver a luz do dia. E  em boa hora, já que agrega aqui algumas das melhores músicas do ano.

gi-81_300Alpinisms
School of Seven Bells

Muitos homens diriam que gémeas ao mesmo tempo é apenas um sonho. Desde que Benjamin Curtis saiu dos Secret Machines e encontrou as irmãs Deheza durante uma tour com os Interpol, esse sonho passou a ser uma realidade, e os School of Seven Bells apresentam aqui um dos candidatos a álbum do ano. A dever tanto aos Cocteau Twins ou os A Sunny Day In Glasgow, como a grupos electrónicos como os The Knife e à vaga de chillout tribal e latina da década passada, Alpinisms é uma obra prima em termos de estrutura e execução.

the-kills-midnight-boomMidnight Boom
The Kills

A fazer completa justiça á etiqueta “lo-fi” a que o duo é associado, o que é até ao momento o álbum mais popular da banda condensa em pouco mais de meia hora todos os elementos que fazia do som a banda algo sexy entre o minimalismo com uma produção mais elaborada, expandido assim o som da dupla VV/Hotel.

mec3b0_suc3b0_i_eyrum_vic3b0_spilum_endalaust-sigur_ros_480Með suð I eyrum við spilum endalaust
Sigur Rós

Um dos nomes incontornáveis da música alternativa desta década, os Sigur Rós vestiram uma roupa algo menos solene, e é com a alegre Goobledigook que começa o 5º álbum do grupo Islandês. Além disso, sendo menos experimental e com mais composições que seguem as normas “clássicas”, bem como uma música cantada em inglês, recebeu críticas de alguma imprensa e de alguns fãs que consideravam que a banda se tinha vendido. Embora tenha, de facto alcançado as posições mais altas nas tabelas do Reino Unido no currículo da banda, isso não quer dizer nem por sombras que é um trabalho menor. Apenas algo diferente em relação aos anteriores.

200px-catnip_dynamite_coverCatnip Dynamite
Roger Joseph Manning Jr.

Apesar de apenas ser lançado no mundo ocidental em 2009, como o mundo da internet permite que se ouça qualquer coisa lançada num país com exportações ou pessoas com o iTunes e o Rapidshare, pode entrar já aqui na lista de 2008, tendo em mente que os momentos pop proporcionados no terceiro álbum em nome próprio do teclista podem certamente abrir-lhe o caminho para semelhante nomeação nas listas que irão aparecer daqui a 12 meses.  Passando por aproximações aos Queen (sem se achar o novo Freddie), guitar pop dos anos 60 e 70 e até algumas passagens que não ficariam mal num álbum dos Ash, existem 12 bons motivos para o álbum ser distribuído nos Estados Unidos e na Europa.

bon_iver_album_coverFor Emma, Forever Ago
Bon Iver

Tecnicamente lançado em nome próprio ainda em 2007, vale a pena recuperar o álbum de estreia do Bom Inverno” – o cheesehead Justin Vernon. Gravado numa cabana no norte remoto do Wisconsin sem acesso a  material de gravaçã de alta qualidade, o álbum mesmo assim oferece momentos belos, mas são as letras, quase uma expiação de anos de todos os tipos de frustrações, que acabam por transformar o álbum em algo único e pessoal, e merecedor de figurar nesta lista.

trr_fern073Always, Sometimes, Seldom, Never
Tears Run Rings

Mais uma produção dreampop do outro lado do Atlântico, o quinteto conseguiu ultrapassar as distâncias (os membros estão espalhados por três cidades da costa Oeste – LA, Portland e San Francisco) e mantendo-se fiel às influências de bandas como os Slowdive, mas a adicionar diversos elementos que dão um som por vezes diferente do ouvido entre outras bandas do género.

200px-ratatat_lp3_coverLP3
Ratatat

Quase uma banda sonora para um programa de ficção científica não existente, o terceiro álbum dos Ratatat parece ter sido feito com todos os intrumentos electrónicos, eléctricos ou acústicos em que tenham metido a mão – e provavelmente, esta conclusão não será tão descabida quanto isso. Alguns irão, certamente, acusar o álbum e não ter “alma” – é um risco inerente de todos os trabalhos instrumentais – mas para quem não procurar o sentido para a vida na música, é um excelente trabalho.

objectObject 47
Wire

Os Wire são um caso raro de longevidade, mas ao mesmo tempo que solidificavam a sua importância na música independente Britânica ao atravessar desde o punk, post-punk, nascimento do indie, britpop até ao pós-britpop,  tornavam-se uma banda de referência para outras bandas, enquanto são constantemente ultrapassados em popularidade pelos hypes ocasionais  muitas vezes decalcados deles (veja-se, por exemplo, os Elastica e os Menswe@r). Chegamos a 2008, e já sem nada a provar, Object 47 consegue sobreviver à majestosidade de One Of Us, a brilhante faixa de abertura

thrushesSun Come Undone
Thrushes

Mais uma estreia,  o quarteto de Baltimore estreia-se aqui com mais um álbum influenciado pelos JAMC – Heartbeats usa a mesma batida de Just Like Honey (a célebre de Be My Baby das Ronettes), mas sem a atitude dos primeiros. Após as três primeiras músicas darem a impressão de um álbum apróximado do dreampop, o começo bombástico de Into The Woods mostra o outro lado do álbum – o do post-rock com as guitarras bem aguçadas.

halo27The Slip
Nine Inch Nails

Após ter-se desmarcado completamente da indústria discográfica durante a promoção de Year Zero, Trent Reznor lançou primeiro a colecção instrumental Ghosts I-IV com uma distribuição própria apoiada pelo formato digital, onde o primeiro dos quatro CDs era distribuído no site da banda (e os restantes, com uma licença Creative Commons pouco restritiva). O sucesso imediato levou a que Trent Reznor, quase de surpresa, lançasse um novo trabalho – desta vez, um agradecimento aos fãs pelo apoio na fase crítica pós-Interscope e assim, The Slip foi disponibilizado gratuitamente, embora quem queira ainda podia comprar uma versão fisica. Embora lhe falte um fio condutor, The Slip é um excelente conjunto de músicas de Trent Reznor, com uma creatividade renovada agora que cheira a liberdade fora do jogo das editoras.

Stainless Style
Neon Neon

Num ano em que o throwback a anos idos, principalmente à década de 80, foi uma constante, apenas um álbum se inspirou completamente na  década. Fruto da conjunção de Gruff Rhys dos Super Furry Animals e do produtor Boom Bip, Stainless Style conta uma história clássica do final dos anos 70 e 80 (o designer John DeLorean) num estilo que em nada fica a dever à sonoridade da década. Louve-se não terem sido arrastados para o lado negro dela.

este álbum era um dos escolhidos, mas foi apagado ao restaurar uma versão anterior do post, por isso, em abono da verdade, é aqui colocado.

Em seguida, nomeações honorárias:

The Courteeners – St.Jude
(Cavorting, What Took You So Long)

Cruyff In The Bedroom – Sardaugia
(Rakuen, Hakuchume, Cherry)

Keane – Perfect Simmetry
(Spiralling, Lovers are Losing, Again & Again)

MGMT – Oracular Spectacular
(Time To Pretend, Electric Feel)

Mogwai – The Hawk Is Howling
(Batcat, The Sun Smells Too Loud)

Scarlett Johansson- Anywhere I Lay My Head
(Falling Down, Anywhere I Lay My Head, I Don’t Want To Grow Up)

The Search – Saturnine Songs
(Distant, Swimmer)

The Ting Tings – We Started Nothing
(That’s Not My Name, Shut Up And Let Me Go, Impacilla Carpisung)

Underground Railroads – Sticks And Stones
(Sticks And Stones, 25, NYC (Money Money))